A Urgência de Pertencer: Quando o Hype Vira Necessidade Feminina
- Karen Faria
- 5 de ago.
- 2 min de leitura

Há um morango do amor na minha geladeira. É particularmente saboroso, porém é um doce comum se analisar a grosso modo, mas comprei porque todo mundo estava comprando. Assisti Branca de Neve e Stitch no mês passado, embora já soubesse o final (e, secretamente, achei que a Disney piorou o roteiro). Baixei And Just Like That só para poder opinar nos stories do Instagram, achando que ia continuar bom (e pelos looks, óbvio). E, sim, já me peguei em frente ao espelho, me imaginando com máscara de pepino e um California roll na mão, tentando reproduzir o aesthetic da Hailey Bieber. Mas não se engane: não é sobre o morango, a série ou o sushi. É sobre a dor aguda de ficar de fora.
O desejo humano é, em grande parte, o desejo do desejo do outro. Queremos o que os outros querem, ou melhor, queremos querer como eles querem. Quando uma trend vira febre, ela deixa de ser sobre o objeto em si e vira sobre pertencer ao ritual coletivo. É a versão moderna do "onde está a manada?" que garantia sobrevivência às nossas ancestrais. Só que, em vez de fugir de predadores, estamos fugindo do FOMO: o medo de ser a única que não entende a piada, não viveu a experiência, não participou do meme. Mas há um detalhe cruel: quanto mais nos forçamos a acompanhar, mais óbvio fica que estamos todas fingindo. Quantas de nós realmente amam aquele filme cult que citam no Twitter? Quantas compram o esmalte da cor do momento só para, duas semanas depois, arrancá-lo com acetona, frustradas? O hype é uma língua que aprendemos a falar, mas raramente reflete nosso gosto genuíno.
O que torna isso uma urgência feminina, e não apenas um fenômeno genérico? A resposta está na pressão histórica sobre as mulheres para serem socialmente aceitas. Enquanto os homens são tolerados (e até celebrados) por suas excentricidades isoladas, nós somos julgadas pela capacidade de nos harmonizarmos com o grupo. Não à toa, os algoritmos nos bombardeiam com listas do tipo "10 Coisas Que Todas As Mulheres Estão Fazendo Em 2024". A mensagem subliminar é clara: se você não está fazendo, você está errada. E assim, consumimos afeto embalado em hype. Assistimos coisas que não nos emocionam, comemos o que não nos alimenta, e fingimos adorar tendências que, no fundo, nos deixam exaustas. A pergunta que fica é: estamos mesmo nos conectando ou apenas performando conexão?
A ironia é que, quanto mais obedecemos às regras do jogo, mais solitárias ficamos. Porque o hype, por definição, é efêmero. Quando o morango do amor mofar na geladeira e a próxima trend surgir, o vazio volta e com ele, a pergunta: "Quem eu seria se ninguém estivesse olhando?". Talvez a verdadeira revolução feminina seja, um dia, poder dizer "não gosto" sem medo de ser excluída. Ou quem sabe, inventarmos nossos próprios rituais menos fotogênicos, mas mais nossos. Enquanto isso, seguimos mastigando morangos com cobertura de açúcar e rindo nos momentos certos das séries certas. Afinal, pertencer ainda dói menos do que ficar de fora.
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