As pesquisas não mentem: não queremos mais ter filhos. Mas de quem é a culpa?
- Karen Faria
- 6 de ago.
- 2 min de leitura

Recentemente vi uma pauta nas minhas redes sociais: "Mulheres brasileiras não querem mais ter filhos". Os comentários? Previsíveis. De um lado, os alarmistas: "Vão extinguir a humanidade!" Do outro, os moralistas: "É fase, depois elas mudam de ideia!”. E no meio, nós: as mulheres reais, de carne e osso, sendo julgadas por decisões que só cabem a nós.
A verdade é que não existe escolha feminina que escape ao julgamento alheio. Se você não quer filhos, é egoísta. Se quer, vão julgar a sua criação. Se tem, mas prioriza a carreira, é mãe ausente. Se dedica a vida aos filhos, é acomodada. Parece piada, mas é a realidade: a sociedade trata o útero como propriedade coletiva, como se cada mulher devesse satisfação ao mundo sobre o que faz ou deixa de fazer com o próprio corpo. A culpa não é das mulheres. É do sistema que nos empurra para a maternidade sem oferecer suporte. É dos homens que ainda acham que criar um filho é ajudar a mulher, e não obrigação. É da sociedade que romantiza a maternidade, mas vira o rosto quando a mãe está exausta, sem creche, sem rede de apoio, sem divisão justa de tarefas. É sobre olhar em volta e perceber que, em pleno 2025 a mulher ainda é tratada como responsável universal: pelo lar, pela prole, pela estabilidade emocional do parceiro. Ou seja: as mulheres estão repensando a maternidade porque para muitas, ainda é assinar um contrato de servidão não remunerada. E quem em sã consciência aceitaria isso?.
Quem vos escreve, desde muito pequena nunca sonhou com a maternidade, muito pelo contrário. E cresci ouvindo os piores tipos de comentários. Ainda tenho 100% de certeza de que não quero ser mãe, mas insistem em achar que meu relógio biológico sabe mais que eu. É curioso ninguém pergunta aos homens quando vão amadurecer e ter filhos. A eles, a reprodutividade é opcional. A nós, é obrigação. E não para por aí: a responsabilidade de criar o filho, manter a casa em ordem, se recuperar do puerpério rapidamente e ainda atender às expectativas do homem ( que muitas vezes quer realizar o sonho de ser pai, mas acaba culpando você pelas mudanças no seu corpo e pela falta de tempo para ele) recairá toda sobre você.
Enquanto homens podem ser pais presentes, ausentes, ou de final de semana sem grande julgamento, a mulher que hesita em ser mãe é tratada como anormal. Mas adivinhem? Filho não é destino biológico, é escolha. E se estamos escolhendo dizer não, é porque o preço está alto demais.
A única dívida que temos é com nós mesmas: de viver sem culpa, sem explicações, sem pedir permissão. Seja qual for sua escolha: ter filhos, não ter, criar sozinha, adotar, voltar atrás, ela é sua. O resto é projeção de uma sociedade que ainda não aprendeu que mulher não é apenas uma máquina obrigada a gestar. E para quem ainda acha que temos que justificar nossas decisões, deixo uma pergunta: Quando foi a última vez que você questionou um homem sobre o que ele faz (ou deixa de fazer) com o próprio corpo?
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