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Nos despedimos das pessoas que amamos, mas dos sentimentos não

  • Foto do escritor: Karen Faria
    Karen Faria
  • 30 de jul.
  • 3 min de leitura
(Em homenagem a essa amiga, pois assistíamos muito Gossip Girl juntas).
(Em homenagem a essa amiga, pois assistíamos muito Gossip Girl juntas).

Outro dia, recebi uma mensagem de uma amiga de infância. Daquelas que a gente conhece antes mesmo de entender o que é amizade. Nos conhecemos tão novas que o que nos unia era simplesmente o querer estar perto. A gente passava férias juntas, semanas inteiras, dormindo na casa uma da outra, inventando brincadeiras, implicando uma com a outra, fazendo planos para quando crescêssemos. Era julho e dezembro e nossas mães quase enlouqueciam, mas a gente estava feliz (sem nem saber que aquilo tudo era um tipo raro de felicidade). Com o tempo, como costuma acontecer, ela se mudou. A gente tentou manter contato, depois deixou de tentar. A vida foi acontecendo, os dias foram correndo, e sem querer, a gente parou de se falar. Sem mágoa, sem conflito. Só aconteceu. E mesmo assim, mesmo com esse afastamento tão silencioso, tão natural, o carinho ficou. O afeto ficou. E bastou um “lembrei de você hoje” para eu sentir, de novo, tudo que nunca foi embora.


Foi nesse dia que eu entendi, de verdade, algo que já havia me visitado em outras situações: a gente se despede das pessoas que ama, mas dos sentimentos, não. E essa sensação não é exclusiva de amizades antigas. A gente também sente isso, com familiares com quem perdemos o contato, com pessoas que foram parte de um capítulo importante da nossa vida. Às vezes, até quando não existe mais convívio, quando a gente já passou por todas as fases do luto de uma relação a mágoa, a raiva, o alívio, a aceitação ainda assim, lá no fundo, há um sentimento que insiste em existir. Talvez não seja mais amor. Talvez não seja mais afeto do tipo que leva a uma reaproximação. Mas é alguma coisa. Uma lembrança de quem fomos com aquela pessoa. Um reconhecimento silencioso do que ela significou. Uma espécie de gratidão meio agridoce, que aparece em momentos aleatórios: numa música, numa rua que lembra um encontro, num cheiro que traz tudo de volta como se o tempo não tivesse passado. É curioso perceber isso. Porque crescemos acreditando que todo laço precisa ter um ponto final claro, que quando uma relação termina, os sentimentos terminam juntos. Mas na vida real, quase nunca é assim. Na vida real, as coisas são mais nebulosas. A gente se afasta, mas continua sentindo. A gente vira a página, mas algumas frases ficam sublinhadas. E não importa quanto tempo passe, certas pessoas sempre terão uma chave de acesso a partes nossas que mais ninguém conhece.


E não é porque a gente não seguiu em frente. É justamente o contrário: a gente segue, mas leva junto. Em silêncio. Em sutilezas. Em camadas. Essa é a verdade difícil que às vezes evitamos encarar: não nos despedimos dos sentimentos. Eles se acomodam dentro da gente, mudam de forma, mas continuam ali. E isso não é sinal de fraqueza, nem de falta de amadurecimento. É só mais uma prova de que sentimos profundamente. E que amar, de qualquer forma, deixa marca. Aquela amiga da infância talvez nunca volte a ser presença. Mas sempre será uma lembrança. Assim como algumas pessoas que amamos e que não puderam ficar. A gente segue. A gente transforma a dor em memória, a ausência em saudade tranquila. Mas o que sentimos… isso fica. Porque o amor, mesmo quando não encontra mais lugar no mundo, continua existindo em nós.


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