Saudades intermináveis de ter uma casa
- Karen Faria
- 8 de jul.
- 2 min de leitura

Desde pequena, nunca me senti pertencente a lugar algum (principalmente a esse). Esse sentimento diminuiu com os anos, mas ultimamente ele tem me acompanhado de novo e todas as noites, quando vou dormir, ele está ali, ao meu lado na cama.
Essa falta de pertencimento me tornou uma pessoa ausente… ausente na vida de quem amo, ausente até para mim mesma.
Passei incontáveis momentos tentando lidar com isso. Tentando escrever, na esperança de que as palavras levassem o sentimento embora. Tentando dormir, achando que no dia seguinte ele teria sumido. Tentando fugir para outros lugares, só com uma mochila e um bloco de notas. Fiquei tão obcecada por essa busca que, quando me dei conta, estava perdida tentando, a todo custo, me encaixar em algum "lar". Obcecada pelo desejo de ser feliz talvez, me perdi ainda mais.
Até que entendi: a solidão já era parte de mim. Não era mais algo a que me acostumar… Talvez por isso sinta falta de tudo, o tempo todo. É uma tentativa inútil de transformar minha própria mente em meu lar.
Por um tempo, achei que era só saudade de casa (talvez ainda seja). Mas hoje sei que, pelo menos para mim, é falta de referência. É falta de ser ouvida, acolhida. De ter colo, abrigo. Todos que me conhecem de verdade se surpreendem com quem realmente sou. Isso aqui é só uma armadura, que vesti ao longo dos anos para sobreviver. Mas às vezes sinto que não quero mais usar. É muito dual para mim porque sinto que já me acostumei a viver dessa maneira.
Quero ser acolhida. Quero um lugar para descansar. Quero me sentir em casa.
Sempre me senti como se estivesse vagando. Dentro da minha própria cabeça. Entre cidades, entre a vida das pessoas. Cada lugar, cada pessoa foi uma tentativa de me encontrar, de me entender, para parar de buscar esse lar.
Acho que estou aprendendo: não me encaixo em lugar nenhum, terei que me acostumar com esse sentimento que todos os dias já tem um lugar garantido ao meu lado na cama. Um dia, terei que largar tudo e aceitar que já tive um lar, mas, por acaso da vida, perdi a chave. Talvez eu precise partir para me reencontrar, para recuperar tudo o que perdi, inclusive a mim mesma. E ninguém precisa entender ou aplaudir essa escolha. Não sei ao certo. Nunca soube ao certo. Tudo isso é um paradoxo.
O que você faz quando quer ir para casa, quando quer colo, quando quer abrigo… mas não sabe para onde ir?
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