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A Ascensão do Conservadorismo e a Comercialização de um Estilo de Vida Elitizado

  • Foto do escritor: Karen Faria
    Karen Faria
  • 19 de jun.
  • 2 min de leitura

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O fenômeno contemporâneo que associa práticas como gravidez de influencers, devocionais como "Café com Deus Pai", rotinas matinais extremas (acordar de madrugada para correr, banhos de gelo) revelam uma complexa intersecção entre conservadorismo religioso, performatividade nas redes sociais e a venda de um ideal de vida inacessível às massas. A minha análise explora como esses elementos se conectam para formar uma estética de vida que serve tanto como marcador identitário quanto como produto de consumo.


A família numerosa (principalmente entre influenciadores cristãos) se alinha mais com um ato político. Casais que tem entre 7 e 10 filhos promovem a ideia de que famílias grandes são de certa forma uma “resposta” ao progressismo. Vinculando que ter filhos, gera uma suposta recompensa divina. Porém, essa narrativa equivocada ignora a realidade econômica de uma maioria, que não tem as mesmas condições de sustentar tantas crianças sem rede de apoio. 

Livros de devocional (como “Café com Deus Pai), transformam a devoção religiosa em produto. Misturando a linguagem de coach com discurso espiritual. A viralização de uma rotina (com café, devocional e postagem) criam a ilusão de uma vida perfeita que pode ser alcançável, mas na prática exige tempo que os trabalhadores não tem. 

Hábitos como uma rotina de skincare cheia de produtos, corridas feitas de madrugada (mas de preferência antes do sol nascer), e a remoção de tatuagens e de itens considerados como “vaidade”, são vendidos como sinais de autocontrole e rejeição ao “mimimi” da atualidade. Volto a dizer que são uma mais uma performance, do que eficazes de fato (como por exemplo, o gelo utilizado no pós treino pode atrapalhar a recuperação muscular. Isso se você não quiser ser um atleta profissional ou estar iniciando na rotina saudável). Ainda assim, funciona como um conservadorismo que valoriza a compostura como virtude. 


Por mais que pareça simples de adquirir na rotina esses hábitos, esse estilo de vida requer: tempo livre (para os devocionais e exercícios); recursos financeiros (para criar muitos filhos, banheira de gelo, livros e cursos);  infraestrutura (casa organizada o tempo todo, acesso à alimentação saudável e horários flexíveis). 

Ou seja: esse conservadorismo é apenas possível para quem já é privilegiado. E atribuem esses privilégios como “bençãos”. 

O que iniciou como um discurso de “retorno aos valores tradicionais”, transformou-se em uma estética de consumo de livros e cursos (que embora pareçam universais e acessíveis, são destinados a uma classe específica).

 Enquanto isso, a maioria que não tem dinheiro para viver essa rotina, acaba excluída de um ideal que supostamente deveria representar “o povo”. E pensa que com muito esforço e trabalho, conseguirá aproveitar essas “bençãos”, demonstradas nas redes sociais… Isso tudo é reflexo dos conservadores, utilizando o cristianismo e certos hábitos como comércio. 


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