A mulher que não se ouve porque só fala dele
- Karen Faria
- 10 de jul.
- 2 min de leitura

Ela está sempre falando de homens. Seja nas conversas de bar, nos grupos de amigas ou até mesmo nas redes sociais, o assunto inevitavelmente gira em torno de relacionamentos, paixões não correspondidas ou da eterna espera por "o homem certo". Mas o que está por trás dessa fixação? Por que algumas mulheres insistem em fazer do masculino o centro de suas narrativas? Sob a ótica psicanalítica, essa necessidade constante de falar sobre homens (ou de se definir através deles) pode ser um sintoma de uma busca por completude. Segundo Freud e Lacan, o sujeito é marcado por uma falta estrutural, e muitos tentam preencher esse vazio com o "outro". No caso dessas mulheres, o homem assume o lugar do objeto, e no conceito lacaniano que representa o desejo inatingível (como se ele fosse a peça que falta para sua felicidade).
A repetição obsessiva desse discurso revela uma tentativa de se validar através do olhar masculino. É como se dissessem: "Se ele me deseja, então eu existo”. Essa dinâmica pode estar ligada a uma fragilidade na constituição do eu, onde a autoestima e a identidade dependem do reconhecimento externo, especialmente do masculino.
O feminino, em sua potência, não se reduz a ser "a que espera" ou "a que sofre por amor". Quando uma mulher só fala de homens, ela silencia outras partes de si: suas ambições, sua criatividade, sua autonomia. A cultura romantizou a ideia da mulher que vive em função do amor, mas essa narrativa é limitante e, muitas vezes, opressiva.
O desafio, então, é resgatar o feminino para além do masculino. Isso não significa negar o desejo por relacionamentos, mas sim não permitir que ele defina toda a sua existência.
O feminino não precisa ser refém do masculino para existir. A fixação em homens e relacionamentos não é apenas um hábito social, é um reflexo de como muitas mulheres foram ensinadas a se enxergar. Desde contos de fadas até romances modernos, a narrativa dominante diz que o amor romântico é a conclusão da realização feminina. Mas o que acontece quando essa busca se torna o único eixo da existência?
A verdadeira questão não é parar de falar sobre homens, mas sim reconhecer quando essa conversa se torna um disfarce para medos mais profundos: o terror de não ser suficiente sozinha, o pavor da invisibilidade sem um parceiro, ou até mesmo a dificuldade de se conectar com outras dimensões da vida.
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