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Consumo consciente vs. Acessibilidade: O dilema brasileiro após a Lei francesa

  • Foto do escritor: Karen Faria
    Karen Faria
  • 19 de jun.
  • 2 min de leitura
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A recente lei francesa que restringe a publicidade e impõe taxas sobre marcas de ultra fast fashion, como Shein e Temu, estabelecendo aqui uma diferenciação clara, entre o fast-fashion “tradicional”, praticado pela Zara, por exemplo. Essa distinção tem sido alvo de críticas pois isenta as marcas europeias de restrições mais rigorosas enquanto mira nas asiáticas. O caso reacendeu um outro debate: como equilibrar a urgência de sustentabilidade com a necessidade de roupas acessíveis? 

Enquanto a França avança com as medidas duras contra o consumo acelerado de moda, o Brasil se vê diante de um dilema ainda mais complexo.  Num país marcado por desigualdade, onde milhões dependem de preços baixos para se vestir, a discussão vai além do ambientalismo e esbarra nas questões sociais e econômicas. 


A legislação francesa, que entra em vigor em 2026, proíbe anúncios de marcas consideradas de ultra fast fashion, e estabelece taxas sobre peças vendidas (podendo chegar até 10 euros, cerca de R$50 por item até 2030). O objetivo é frear o impacto ambiental na moda descartável, responsável por 10% das emissões globais de gás carbônico e por toneladas de resíduos têxteis. Porém muitos críticos apontam que a medida ignora o fato crucial de que para muitos consumidores, especialmente em países de desenvolvimento, plataformas como Shein e Shopee são a forma mais acessível de adquirir roupas. No Brasil é mais evidente, pois as classes altas podem se permitir a optar por marcas mais sustentáveis, enquanto uma parcela significativa de brasileiros depende do comércio de roupas baratas e muitas vezes importadas da China. Dados do IBGE revelam que, em 2023, cerca de 30% dos brasileiros compraram peças em lojas online internacionais, onde os preços eram até 70% menores do que o varejo nacional. Nesse contexto, observa-se que qualquer política que encareça esses produtos, sem oferecer alternativas viáveis pode acabar prejudicando quem menos pode pagar. 


O grande desafio, portanto, não é apenas copiar o modelo francês, mas criar um caminho próprio que considere a realidade do país. Isso significa, por exemplo, investir em economia circular (como reaproveitamento de tecidos e incentivo a brechós), mas também em políticas que tornem a moda sustentável verdadeiramente acessível (via subsídios, ou inovação em materiais e produção). Enquanto a França pode se dar ao luxo de priorizar o ambientalismo em sua legislação, o Brasil precisa de uma solução que não deixe milhões para trás. O risco é que a moda consciente torne-se privilégio, enquanto a maioria é refém de um sistema poluente mas ainda indispensável. O exemplo francês serve de alerta, mas a resposta brasileira precisa ser menos proibitiva e mais criativa.


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