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Sustentabilidade ou só mais um jeito de lucrar com a culpa das mulheres?

  • Foto do escritor: Karen Faria
    Karen Faria
  • 16 de jul.
  • 2 min de leitura
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Nos últimos anos, o discurso da sustentabilidade virou tendência, principalmente dentro do universo da moda. São etiquetas verdes, campanhas com tons pastéis e slogans que apelam para a nossa consciência ambiental. Mas, por trás de todo esse verniz ecológico, uma pergunta incômoda persiste: será que essa preocupação toda é mesmo pelo planeta… ou só mais um jeito de lucrar em cima da culpa das mulheres? Enquanto as grandes marcas seguem produzindo toneladas de roupas em condições precárias e com alto impacto ambiental, as consumidoras são constantemente bombardeadas com mensagens de responsabilidade individual. “Repense suas escolhas.” “Você precisa consumir melhor.” “A culpa do planeta estar como está é sua, porque comprou aquela blusinha por R$ 19,90.” A pressão recai sobre quem menos tem poder de decisão.


Esse movimento tem nome: greenwashing. É quando empresas fingem adotar práticas sustentáveis para limpar a própria imagem, sem mudar, de fato, sua lógica de produção em massa, exploração de mão de obra barata e destruição ambiental. E, muitas vezes, esse discurso é cuidadosamente direcionado às mulheres, que historicamente são vistas como as responsáveis por “cuidar”, por manter tudo em ordem, por equilibrar as escolhas da família, por se sentir mal ao consumir. O marketing faz questão de transformar cada compra em um dilema moral: “Você vai mesmo comprar isso, sabendo o impacto ambiental que tem?”, como se uma consumidora de classe média tivesse o mesmo nível de influência que CEOs e investidores da indústria têxtil global. É uma inversão cruel: enquanto as decisões de alto impacto seguem nas mãos de poucos, as consequências (e a culpa) são terceirizadas para muitas. A lógica é perversa: o mesmo sistema que empurra mulheres para o consumo como válvula de escape, como sinal de pertencimento, como forma de sobrevivência estética num mundo que as julga pela aparência, depois as culpa por ceder. Primeiro vendem a escassez: “seu guarda-roupa precisa de um refresh”, depois vendem a culpa “você comprou errado”. E, por fim, vendem a solução: “adquira agora nossa linha ecofriendly feita com 2% de garrafa PET reciclada”. 


A sustentabilidade não pode ser só mais um argumento publicitário que explora o cansaço emocional feminino. Não é justo que recaiam sobre as mulheres as responsabilidades ambientais enquanto os maiores poluidores seguem impunes, lançando coleções novas toda semana, com etiquetas verdes e promessas vazias. Cuidar do planeta não é tarefa individual. E muito menos uma culpa que deve ser jogada, mais uma vez, sobre as costas femininas. A verdadeira mudança começa onde está o poder de decisão: nas grandes empresas, nas legislações, nos lucros que se acumulam às custas de um planeta que já não aguenta mais, e de mulheres que também estão exaustas.


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