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Ser mulher forte tá acabando com a gente

  • Foto do escritor: Karen Faria
    Karen Faria
  • 17 de jul.
  • 2 min de leitura
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Você já se sentiu culpada por estar cansada? Como se o simples fato de não dar conta de tudo fosse um fracasso pessoal? A geração que cresceu ouvindo que “mulher não depende de ninguém” agora sofre em silêncio: endividada, ansiosa, sobrecarregada e se perguntando por que ainda não se sente realizada. Durante anos, fomos incentivadas a ser as melhores em tudo: carreira, estética, relacionamento, autocuidado, empreendedorismo, militância. A “girlboss” virou um ícone porque é aquela mulher que acorda às 5h, malha, lê, trabalha, estuda, investe, cuida da pele, do corpo, do lar e do emocional (dela e dos outros). E agora? Estamos cansadas, não porque somos fracas mas porque ninguém deveria carregar tanto peso sozinha.


A recente onda de vídeos de ex-girlbosses confessando burnout, falência e solidão revela o que muitas de nós já sabíamos, mas tínhamos vergonha de admitir: o discurso da independência absoluta se tornou uma nova forma de opressão. Ser autônoma virou sinônimo de nunca pedir ajuda. De resolver tudo calada. De provar o tempo todo que “dá conta”. Só que isso não é liberdade é autoabandono. A psicanálise mostra que o ideal do eu (essa imagem mental de quem deveríamos ser) é cruel quando descola da nossa realidade, quanto mais nos afastamos de quem somos para tentar parecer “fortes”, mais nos frustramos. A mulher que se sente culpada por falhar está presa nesse ideal. E, cá entre nós: qual é a graça de vencer sozinha, se você não comemora nada do que conquista porque acha que não fez mais do que sua obrigação? Transformaram o empoderamento em uma exigência: Se você está exausta, a culpa é sua; Se alguma coisa falhou, você não se esforçou o suficiente; Se está triste, falta gratidão. E sabe o que é ainda mais cruel? Essa cobrança de dar conta de tudo não nasceu do nada: a gente aprende cedo que precisa ser responsável, estudiosa, bonita, comportada, prestativa. Que tem que saber se virar, cuidar dos outros, manter a casa em ordem, a vida nos trilhos e ainda estar sempre sorrindo. Enquanto isso, muitos meninos crescem ouvindo que não precisam se esforçar tanto, porque “uma hora vão encontrar alguém que cuide deles”. E encontram. A sociedade inteira preparou a mulher para isso. O resultado? Mulheres sobrecarregadas emocionalmente, fisicamente e mentalmente e homens que continuam relaxados, porque sabem que alguém sempre vai fazer por eles.


A independência que nos prometeram como liberdade virou, em muitos momentos, uma solidão disfarçada de sucesso. A gente aprendeu a levantar sozinha, mas desaprendeu a ser cuidada. Ser forte demais nos fez esquecer que a vulnerabilidade também é um direito. Não é fraqueza pedir ajuda. Não é fracasso mudar de ideia. Mas a sociedade nos fez acreditar que as mulheres devem dar conta de tudo, e desde pequenas somos criadas em prol disso: ter uma vida profissional e cuidar de uma casa (e essa dupla jornada não é justa, essa cobrança de “dar conta de tudo” os homens não tem). E não é sinal de inferioridade escolher uma vida mais leve, mesmo que pareça “menos brilhante” aos olhos dos outros. Talvez o verdadeiro empoderamento esteja justamente em não aceitar mais carregar sozinha um mundo que nunca foi justo com a gente. E se liberdade for também, o direito de descansar?


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